Tela que ilustra o artigo: ‘Asa branca no sertão’ de J. Borges
Há um ano a literatura brasileira perdia um escritor. Eu, um amigo. Vivi o tempo de Romulo Nétto, mas o tempo literário deste escritor mineiro radicado no Mato Grosso era contemporâneo a dois grandes nomes da nossa literatura: Guimarães Rosa e Osório Alves de Castro.
O sertão que inspirou Rosa ao longo de sua obra, o cenário onde Riobaldo e Diadorim trilharam sua sina e o rio São Francisco, que irrigou os romances do baiano radicado em Marília, Osório, floresceram nos textos de Romulo Nétto.
Os três praticaram uma literatura arrebatadora. Poeta dos deserdados, Nétto trazia a técnica da narrativa jornalística, a visão aguçada do homem crítico e, ao mesmo tempo, sustentava a pureza dos caboclos do sertão, dos pescadores das barrancas do São Francisco, dos lavradores que depositam não apenas semente na terra, mas esperança e fé da colheita em fartura.
Assim como Osório, que teve suas cinzas absorvidas pelas águas de um rio, Romulo também teve este desejo atendido e sua existência hoje se mistura ao volume do rio em que ele e seus irmãos brincavam na infância.
O vigor de Romulo persiste, basta abrir qualquer um de seus livros, publicados pela Carlini & Caniato ao longo das duas últimas décadas. Uma produção editorial de fôlego.
‘Sertão de sangue’, que integra a série denominada de Faroeste Sertanejo, está sendo adaptado para o cinema por um grupo de jovens cineastas e produtores liderados pelo premiado Rodrigo Grota. Grota e Romulo Nétto se encontraram em Londrina, na véspera da Páscoa de 2015, ano da morte do escritor mineiro [a quem, carinhosamente e pelo imenso respeito tenho por sua lavra literária, aguçada e de peso, chamava de ‘Velho Jagunço’].
Grota me ligou no momento do encontro e me passou o telefone para Romulo. A emoção do meu amigo mineiro era imensa. Pena que a confirmação da adaptação para o cinema de ‘Sertão de Sangue’ tenha ocorrido dias após de sua morte, quando saiu o edital de fomento ao filme.
Escrevo em homenagem e em gratidão a este amigo que a literatura me trouxe e o destino levou.
‘O seu roteiro não tem volta, só tem ida pra findar a sua vida na amplidão azul do mar’, revela o trecho de uma das modas mais bonitas já compostas por nossos poetas do Brasil de dentro: José Fortuna e Carlos César. O nosso roteiro não tem volta, só ida.
Assim foi a vida e obra de Romulo Nétto, que agora chega à imensidão da sétima arte.
Por Ramon Franco
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