Desde quando a Associação dos Escritores de Assis iniciou as atividades, os respectivos participantes planejavam publicações frequentes, como forma de divulgar os próprios trabalhos, assim como estimular a entrada de novos membros. Naquele tempo muita coisa ainda precisava ser “sentida”, principalmente a que estilo de reunião os membros ansiavam. Coisas hilárias já aconteceram por lá, primeiro pelo óbvio motivo de que tratamos de reuniões entre pessoas com uma sensibilidade, digamos, acima da média. Isso é inquestionável, afinal escritores são muito sensíveis!
O feedback veio aos poucos, mas veio. Agora, o grupo EscritAssis já está com três anos, e as reuniões começaram na Câmara Municipal de Assis.
Como tudo começou...
Lembro-me de que a bancada tinha um sério formato em “U”, ficávamos longe uns dos outros. Era uma “cátedra” em que não nos sentíamos dignos de estar lá (falo por mim); certamente um ambiente provisório. Depois, passamos um período na Biblioteca Municipal. O espaço era ótimo, mas ficava um pouco dispendioso que um funcionário fosse abrir o espaço para nós sempre − não que essa pessoa não fizesse isso com prazer − porém, nós sentíamos que podíamos estar incomodando às vezes. Permaneceríamos na biblioteca, bem possivelmente, se a proposta do Galpão Cultural não fosse tão igualmente interessante. Salve! O motivo de possuirmos a nossa própria chave deu um “ar” de autonomia por ter o nosso próprio espaço. Dentro de toda a agenda que o Galpão já possui, assinamos quinzenalmente aos sábados à tarde.
Nossos projetos...
Durante todo o ano passado, organizamos uma antologia: “Escritos do lado de cá”, ao mesmo tempo enviávamos textos semanais ao Jornal de Assis, e de modo facultativo ao jornal Voz da Terra. Percebemos que os jornais tinham uma preferência por crônicas, no entanto, a grande maioria dos associados escreviam poemas. Foi um momento de “crise”, pois, aqueles que escreviam crônicas, por muitas vezes ficaram saturados, enquanto aqueles que escreviam poesia, ociosos. Sonhamos calados por um tempo, planejando um espaço maior.
Posso jurar que o cenário atual político deu uma guinada para que o “No Meio de Tudo” acontecesse. Digo isso, por que as pessoas na rua, em família, em seus serviços estão se atacando o tempo todo, simplesmente por pensar diferente. Por consequência, pensando que sabem mais do que os outros. Um câncer generalizado chamado intolerância.
Serve-nos como exemplo daquilo que não queremos ser. Pessoas esclarecidas e com tendências emancipatórias, já não aguentam mais discutir política. Preferimos antes fugir. Preferimos a loucura quixotesca; e o que é a loucura quixotesca se não essa fuga da realidade? — Estou lendo Dom Quixote agora, aos 27, falo isso porque será o tema da primeira capa, tenho um pouco de vergonha de admitir isso, mas antes tarde do que nunca! — Debruçamos, então, a nossa necessidade de fuga na arte.
Preferimos a arte...
Minha mãe também escreve poesia. Cresci ouvindo historinhas e sei que do seu jeito e como o seu conhecimento permitiu, ela e o meu pai me supriram educacionalmente o quanto puderam.
Temos um fato: se os jornais locais não publicam poesia/literatura com frequência de onde ela virá?
Os livros possivelmente empoeirados das bibliotecas criarão asas para se mostrar?
Todos sabem o quanto as redes sociais, acabam por tirar nosso tempo livre. A literatura com “facadas” e aparentemente tão entediante. Mas permanecem com a TV ligada no Datena — nada contra ao seu trabalho... Porém, essa nossa necessidade de catarse é notória e antiga, não vai se esvair. Se existe algo de que somos dependentes e imensamente dependentes na vida, mas demora a nos darmos conta: é a Arte!
A revista Circuito do Grupo Circus, já tem feito um trabalho incrível e belíssimo sob o custeio do PROAC, bem como fará a recém-criada revista Literando do A’s grupo editorial.
Nosso projeto é mais modesto, apresentaremos o nosso trabalho no formato “folhetim”. Como era a literatura numa época que não havia muitos recursos tipográficos. Mas, para nós o baixo custo ajudou muito e fará justamente com que a poesia alcance quem dela mais precisa. Além de conseguirmos uma regularidade maior; novos públicos e novos horizontes.
Todos estes projetos ajudarão a respondermos a arte com as nossas vidas, como algumas pessoas que conhecemos e encontramos na sociedade. Vocês precisam conhecer uma dessas: a dona Flauzina. Uma vizinha minha, epiléptica que sofre com ataques de escorpiões todos os anos. Os vizinhos se reuniram, e fizemos uma bela faxina no quintal. Vocês sabiam que o maior hobby da dona Flauzina é passar horas e horas amarrando linhas “anne” para formar um bordado incrível? Ela desfruta desse momento de meditação artística, como a coisa mais maravilhosa que ela pode fazer na vida!
No seu extenso quintal tem uma frondosa jabuticabeira, quando está em frutos é uma obra de arte. Certamente a dona Flauzina teve duas escolhas: subir para a morte (visto que suas crises de desmaios são muito frequentes) ou agradecer a vida através da sua arte.
A arte agrega, pois, quando vemos um poema com pernas (como a dona Flauzina), que é capaz de responder a arte com a vida. Somos capazes de parar para admirá-los e respeitá-los e eles nos dão frutos de volta. Minha luta pessoal é para que as pessoas tenham uma consciência artística aberta. A beleza deve estar nos olhos unicamente de quem vê, porque nem sempre o belo estará lá. O que faziam as borboletas nos muros cinza dos campos de concentração?
Num mundo em que tudo já foi inventado e criado... Quão originais ainda nos resta ser? Mas se precisamos sentir essa arte em nossas veias, carecemos ainda ser. Portanto, venham conosco se encantar com o folhetim literário “No Meio de Tudo”. Com o conteúdo que ele pode apresentar dos nossos artistas locais. Venha também congregar, partilhar e crescer em grupo no EscritAssis.
Por Enia Celan