É com muito entusiasmo que reproduzo no portal OnLiterário a partir deste sábado, 14 de maio, a coluna ‘Entre linhas, entre livros’, do portal Marília Notícia.
Falar de literatura preenche o meu espírito, sou um leitor persistente, amo ler e amo muito escrever. Na lida com a imprensa, e já se vão mais de 20 anos que estou neste frete, poucas vezes me sobrava tempo para escrever sobre determinado autor que estava lendo naquele momento, ou compartilhar com os leitores de algum livro que me empolgava.
É justamente este o intuito desta coluna, intitulada ‘Entre linhas, entre livros’, pois a cada linha de um novo livro a gente descobre um novo mundo. Compartilhar deste mundo, que muitas vezes reflete o mundo em que vivemos, será nossa prática.
Quem quiser cooperar, pode nos enviar sugestão de leituras, suas críticas e comentários de autores brasileiros e estrangeiros. Nunca escondi a minha disposição em absorver com mais frequência os autores brasileiros, mas não desprezo os estrangeiros, principalmente os norte-americanos e os portugueses.
Se bem, que, autor português nem dá para chamar de estrangeiro, é gente como a gente, pois são filhos da mesma pátria, a Língua Portuguesa. O mesmo vale para os que falam o português, por isso Mia Couto, para mim, nem é moçambicano, é brasileiro.
Daria para dizer que ele até mesmo é nascido na Bahia, dado a tanto talento que possui. Saramago, que português que nada. Tem jeitão de quem viveu anos em Ribeirão Preto ou Rio Preto. E assim, vamos lendo e vivendo. Aqui, de uma certa forma, priorizarei os autores de Marília e do nosso Estado.
Vozes mudas
Lembro que em 2011 cheguei a ler que através do twitter, o romancista Paulo Coelho, o autor brasileiro mais lido no mundo, se manifestou sobre a ausência de seu nome numa compilação feita pelo também acadêmico Carlos Nejar.
Naquela matéria, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, foram mencionados outros autores brasileiros de sobrenome Coelho. Entre estes autores, Nelly Novais Coelho. Professora e crítica literária de elevado senso e sensibilidade, Nelly viveu em Marília. Conheceu Osório Alves de Castro, o alfaiate vencedor do Prêmio Jabuti de 1962 e, na minha modesta opinião, o maior romancista que já passou pela cidade que leva o nome do poema do inconfidente Tomás Antônio Gonzaga.
Por aqui também já estiveram José Geraldo Vieira, de ‘A quadragésima porta’ e Osman Lins, de ‘Lisbela e o prisioneiro’, mas ambos são assuntos para uma outra oportunidade. Nelly analisou a obra de outro grande romancista da literatura brasileira, Ricardo Guilherme Dicke, quando do relançamento de ‘Deus de Caim’. A expressão de Paulo Coelho é válida, ficar de fora de um compêndio é motivo para um autor do naipe do alquimista realmente espernear.
Agora, com respeito aos enredos de Paulo que me inspiraram de modo intenso na adolescência, o que pensariam Osório e Dicke, que ao longo de décadas permaneceram, e ainda permanecem, de fora do conhecimento do grande público leitor brasileiro? Ambos já se foram, sim. Mas suas produções literárias deram vez aos humildes, que ainda continuam feitos vozes mudas clamando para serem ouvidas por nós.
Para Nelly Coelho, Osório dedicou ‘Maria fecha a porta prau boi não te pegar’, romance que ele quase não viu publicado. Antes de falecer, Osório teve tempo para manusear a última prova.
O romancista homenageia a professora e crítica literária da seguinte forma: “À Nelly Novais Coelho e às heroicas professoras dos cursos primários e secundários das penetrações escolares da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e da Estrada de Ferro Paulista sobescrevo com estima e gratidão”. No prefácio, do excelente escritor e jornalista Nildo Carlos de Oliveira, está bem desenhado o retrato do trabalho de Osório, homem que deu voz aos humildes.
Osório viveu em Marília, onde vivo atualmente. Tive a honra e gratidão, por intermédio do escritor Romulo Nétto [in memoriam] e do editor Ramon Carlini, de compartilhar da mesma editora de Ricardo Guilherme Dicke, a Carlini & Caniato.
Por ela, saíram os títulos de Dicke ‘Madona dos Páramos’ e ‘Toada do Esquecido’, entre outras obras que o público merece ter acesso. É necessário que prevaleça preservação e o estímulo às obras de autênticos escritores brasileiros.
Quanto ao protesto de Paulo Coelho, penso que o mago está certo. Não identifico vaidade nisso e sim inteligência. Um autor realmente precisa ser o principal divulgador de sua obra, o principal defensor de seu trabalho, o primeiro crítico e o primeiro leitor. E, quando se sentir injustiçado, tem por dever literal correr atrás do prejuízo.
Por Ramon Franco