Marília na ficção

Obra desta coluna: ‘Colheita da Banana’, por AD Silva.

 

Da época em que tinha paciência e tolerância para assistir à telenovela, e isso faz um bocado de tempo, em cena um casal estava jantando quando citaram o nome da cidade de Marília.

Na verdade, o município surgiu numa conversa sobre a presença de imigrantes japoneses no Brasil. Nesta época, remotamente me lembrava que o Benedito Ruy Barbosa, autor de peso da teledramaturgia que assinou novelas inesquecíveis como ‘Pantanal’ e ‘O rei do gado’, tinha vínculos com a região.

O que sabia se restringia aos fatos: nascido em Gália e crescido em Vera Cruz. Contudo, mal sabia que aquela cena antológica em que o personagem vivido por Tarcísio Meira vai com a família recepcionar os pracinhas que voltaram da II Guerra Mundial na esperança de reencontrar o filho, havia se passado em Marília.

Aquele momento em que, ao invés do filho, a família recebe uma medalha de honra ao mérito foi testemunhado por Benedito Ruy Barbosa em Marília, no ano de 1945, quando da recepção aos homens da Força Expedicionária que combateram na Itália.

Benedito, então um estudante com pouco mais de 10 anos, estava nesta solenidade e viu tudo. Mais tarde, ele dramatizou o momento. Até hoje o novelista se emociona ao recordar o que viveu na cidade de Marília neste dia.

A teledramaturgia teve Marília como base de ficção na novela ‘Morde & Assopra’, de Walcyr Carrasco. Nascido em Bernardino de Campo, Walcyr, que agora escreve a novela ‘Êta mundo bão’, viveu a infância e adolescência em Marília. Naquela trama, ‘Morde & Assopra’, Marília era citada com frequência, a trama se passava na região e trazia elementos próprios de Marília, como as escavações paleontológicas.

Ao final da 31ª Noite dos Pioneiros, realizada recentemente, um poema me transportou para uma Marília que, confesso, gostaria de ter vivido. ‘Mariléia desvariada’, de Dafran Macário, nos reporta para uma ficção, já que não vivemos mais no tempo da Marília de ‘Céu azul/Roupa rasgada/Vento batendo/Cabelos longos/Voando na bike/Barulho da lata/Caminhos da cascata’.

Se bem que, céu azul, aqui é uma ficção bem  real. Quando conheci o compositor e cineasta Sérgio Ricardo, numa das suas voltas à Marília, ele me disse sobre o céu da cidade. “Ramon, o céu aqui é mais azul”.

Fiquei com esta impressão e passei a observar melhor. Realmente, aqui é outro céu. Não sei se pelo fato de estarmos no alto de uma serra, ou se por termos afeto por demais, mas o que acontece é um azul mais azul. O Sérgio Ricardo sabe o que diz, afinal, além de músico, cantor e instrumentista, ele é um artista plástico muito sofisticado.

Recentemente tive a oportunidade de ler ‘Nihonjin’, de Oscar Nakasato. Nakasato, do Paraná, ambienta quase um capítulo inteiro de ‘Nihonjin’ em Marília. Sua obra conquistou o título de Melhor Romance no Prêmio Jabuti de 2012.

O livro narra a trajetória dos imigrantes japoneses de uma forma envolvente e, para mim, empolgante. Um texto formidável e merecedor dos prêmios que acumulou. Além do Jabuti, venceu o Prêmio Benvirá de Literatura.

Só para encerrar, gostaria de reportar que em, ao menos, dois livros do jornalista Fernando Morais, um excelente autor de não-ficção,  Marília aparece. Em ‘Corações Sujos’, é um dos palcos da famigerada Shindo Renmei, e na biografia de Paulo Coelho, ‘O mago’. Neste último, Morais cita a terra do jornalista Nelson Liano, que escreveu um livro em coautoria com Coelho que, depois, seria considerado o escritor brasileiro mais lido no mundo.

 Ramon Franco Por Ramon Franco