A foto de Plínio Marcos

Era 2010 e, por aqueles dias, fazia pouco mais de um mês que estava na redação do Diário de Marília – no que foi a minha muita rápida passagem de quase um ano por este tradicional jornal local.

O então chefe de redação, Guto Pereira, lá da ponta onde ele se sentava, virou para o meu lado e disse: “Ramon, o Ignácio Loyola de Brandão estará aqui em Marília amanhã, você não quer cobrir?”. De pronto respondi que sim, que já tinha lido alguns livros dele e que admirava o texto do homem de Araraquara.

No dia seguinte, lá no campus da Unesp, estava eu. Caderno e caneta na mão. Quando entrei no anfiteatro fui surpreendido por um vozeirão imponente vindo de um senhor grisalho, mirradinho, segurando uma cadernetinha preta.

A partir das palavras que me chegavam já não estava mais em 2010 e nem na Unesp de Marília. Transitava, então, por Araraquara da década de 1940, também pela São Paulo dos anos de 1960, ou ainda pela Alemanha dos anos de 1980, palco de ‘O verde violentou o muro’, um dos primeiros livros de Loyola que li.

E, para a minha surpresa, ao final, já na entrevista, o escritor me transportou para a Marília da década de 1950. Ignácio frequentou o cineclube, as domingueiras quando o Yara Clube era ainda na avenida Sampaio Vidal, o Cine Marília e o Cine Bar.

Fez grandes amigos por aqui, como o jornalista e sócio-fundador do Clube de Cinema, Roberto Cimino. O escritor de Araraquara tinha – e ainda tem – vínculos familiares com Vera Cruz e, por isso, assíduo frequentador da noite mariliense.

A efervescência cultural de Marília nas décadas de 1950, 1960 e 1970, impressiona. Me recordo que, em oportunidade anterior a esta do contato com o escritor Ignácio Loyola de Brandão, trocava e-mails com o dramaturgo e escritor Oswaldo Mendes, o Oswaldinho, quando mencionei que tinha acabado de ver uma foto onde aparecia ele, ainda novinho, caminhando ao lado do dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999).

Plínio, ao que me recordo, segurava um cigarro entre os dedos. Oswaldinho, um livro – ou algo parecido. Imediatamente, ao ler esta mensagem, Oswaldinho entrou em contato comigo. “Ramon, por favor, onde você encontrou esta foto? Estou no fechamento do acervo fotográfico para o livro ‘Bendito Maldito – uma biografia de Plínio Marcos’, e gostaria muito de incluir esta imagem”.

A imagem tinha sido me mostrada pela bibliotecária Wilza Aurora Matos, da biblioteca da Câmara Municipal. Coloquei o Oswaldinho em contato com a Wilza e, houve tempo suficiente para que a foto pudesse compor o material fotográfico da biografia de Plínio escrita por Oswaldinho.

Publicada pela editora Leya, a biografia nos apresenta a essência do autor de ‘Barrela’ e ‘Abajur lilás’. E, a foto mencionada, registra que o encontro de dois grandes homens do teatro brasileiro se deu justamente em Marília, nos idos de 1968. Quatro décadas depois, Oswaldinho publicaria a biografia do autor de ‘Navalha na carne’.

 Ramon Franco Por Ramon Franco