Semana passada me debrucei com atenção nos números e resultados da Pesquisa Retratos da Leitura, realizada pelo Ibope e Instituto Pró-livro em sua quarta edição.
O levantamento ouviu mais de cinco mil pessoas, leitores a partir dos 5 anos de idade, buscando traçar os hábitos e as motivações de leitura. Jornais físicos e digitais lideram o tipo de material mais lido e menos de 10% da população leitura brasileira lê literatura diariamente.
O escritor preferido dos brasileiros é o criador do Sítio do Pica-pau Amarelo e do personagem Jeca Tatu, Monteiro Lobato. Por sinal, o meu filho mais velho, Guilherme Miguel, que está no quinto ano, vem lendo um dos livros de Lobato, ‘A chave do tamanho’.
Perguntei para o Gui se ele estava gostando do Monteiro. Com a sinceridade típica da infância, e meio acanhado com receio de magoar o pai escritor, Guilherme virou e disse: ‘Ah, pai, o livro da família Pântano era melhor…’.
O livro da família Pântano, uma das leituras escolares do ano, tratava de um clã nada convencional, uma espécie de Família Adams. Disse que era natural ele não se identificar com o estilo de Lobato, pois o escritor criou o Sítio do Pica-pau Amarelo antes da primeira metade do século passado, para os pequenos leitores de uma época que ainda nem se falava em televisão, muito menos em canais fechados só com filmes da Disney, só com esportes ou canais só com documentários, isso sem contar a da internet e os games que se pode jogar com os colegas do colégio e do bairro pelo próprio smartphone.
Na minha infância, e ela se deu na década de 1980, o Monteiro Lobato era uma referência mais comum na televisão, através dos episódios do ‘Sítio do Pica-pau Amarelo’, com a trilha de abertura inesquecível de Gilberto Gil, do que propriamente na sala de aula.
De fato, não me recordo das professoras terem indicado Lobato como atividade curricular e o meu contato com as obras dele ocorreu em casa, com a minha mãe, professora da Educação Infantil, presenteando a mim e aos meus irmãos com a obra completa do Sítio do Pica-pau Amarelo. A gente folheava os livros da coleção e eu ficava indignado por me deparar com os tamanhos minúsculos da Emília e do Visconde de Sabugosa. Na TV eles pareciam do tamanho natural.
Fiz todo este preâmbulo justamente para apontar uma interpretação para a pesquisa Retratos da Leitura: suspeito que a referência de Monteiro Lobato no levantamento está mais associada ao fato da adaptação do Sítio para a TV do que, propriamente, o hábito da leitura dos livros com as aventuras de Pedrinho, Narizinho e da boneca Emília.
Outro ponto que me chamou atenção foi a falta de incentivo à leitura no âmbito das relações pessoais. Para 67% da população brasileira não houve uma pessoa sequer que a incentivasse a leitura em sua trajetória.
Dos que tiveram incentivo, a mãe foi a principal responsável, seguido do professor. Mas, vejam, no Brasil, 50% dos professores não lê livros. O livro mais lido no país é a Bíblia.
Entre os livros mais marcantes dos brasileiros estão O Sítio do Pica-pau amarelo, Dom Casmurro, O Alquimista, Meu pé de laranja-lima e Vidas Secas.
Outros foram citados, mas aqui selecionei apenas os escritos por brasileiros. Diante do que o estudo mostra, temos um longo caminho a percorrer.
Transformar o Brasil num país de leitores, a meu ver, passa, principalmente, em fomentar a leitura por prazer, por gosto e abolir a prática da leitura pela imposição. Sensibilizar o estudante da importância da leitura seria uma boa alternativa. Ler para uma criança, também. Afinal, como dizia Monteiro Lobato: uma nação é feita de pessoas e livros.
Por Ramon Franco