Foto: Rogério de Souza
Lamentavelmente, a oficina cultural Tarsila do Amaral irá fechar. Trata-se de uma notícia péssima. Nociva porque a falta deste centro de formação e aperfeiçoamento corresponderá ao esgotamento de possibilidades para Marília e região. Possibilidades em vários aspectos, mas, principalmente no que se refere ao caminho para iniciação profissional nas modalidades artísticas fomentadas pelo núcleo que, desde 2005, gera conhecimento em áreas essenciais de uma sociedade: a cultura e o fazer artístico.
Literatura, cinema, artes plásticas, teatro, fotografia, dança, audiovisual, quadrinhos, música, gestão cultural entre outros segmentos do saber artístico foram temas de oficinas, cursos e palestras promovidas ao longo de uma década pela Tarsila do Amaral. Era o espaço adequado para difundir um fazer que, muitas vezes, não está disponível na sala de aula ou no cotidiano de muitas cidades, preenchendo uma lacuna estratégica para o desenvolvimento humano. Ministrei as primeiras oficinas de literatura da Tarsila do Amaral, quando a oficina ainda funcionava no segundo andar do prédio da biblioteca municipal. Depois, desenvolvi oficinas externas, levando conceitos da produção literária para estudantes do Ensino Médio. Realizei várias oficinas para os legionários mirins, difundindo técnicas de narrativas e apresentando um repertório de autores nacionais para facilitar a produção de dissertações e textos analíticos. Também ministrei palestras sobre a literatura brasileira contemporânea não apenas em Marília, mas em cidades da região através da Tarsila do Amaral, como em Garça e Paraguaçu Paulista - por sinal, minha terra natal. Lembro que nas aulas e nas atividades apresentadas aos alunos, transmitia não apenas as técnicas para uma arquitetura textual, mas, também, aquilo que a escrita poderia representar nos proporcionar e o efeito construtivo da leitura. Buscava transferir o que tinha aprendido nesta caminhada para a composição da lida de escritor, detalhando como é possível se tornar um escritor – mesmo vivendo em uma região isolada culturalmente. .
A oficina Tarsila do Amaral consiste num ambiente de conexão cultural, que vinha livrando Marília e região da amputação cultural. O isolamento é uma das piores circunstâncias que podem acontecer a uma classe artística. Sem a conectividade com núcleos exteriores, principalmente com centros onde o mercado cultural gera empregos e renda, floresce o enxugamento da produtividade artística, a falta de estímulo para a criatividade e o sumiço de talentos. O artista, o produtor cultural, o escritor, o pintor e o músico, para citar algumas categorias profissionais, vivem de sua arte, da produtividade de sua criação. Mesmo que de forma indireta, artistas desta região do Estado encontram em sua habilidade artística o fruto do sustento. Isto significa que obtêm renda, muitas vezes direta representada pela venda de seus livros, suas telas e shows para arcar com a conta de luz, a de água e encher o tanque do automóvel. Portanto, além de um retrocesso cultural, o fechamento da Tarsila consiste em mais um capítulo dos efeitos da crise econômica que vem assolando o Brasil.
Por Ramon Franco
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