Na semana passada, quando navegava pelo Facebook, a postagem na timeline de uma redatora de um portal literário que chamou a atenção. Ela solicitava indicações de livros que relatavam ditaturas militares ou civis sofridas por países da América Latina. Rapidamente, começaram a surgir na minha mente lembranças dos livros do colombiano Gabriel Garcia Márquez, do peruano Mário Vargas Llosa, do brasileiro Fernando Gabeira e também do argentino Rodolfo Walsh. Mas, particularmente, um escritor me tomou de pronto e, quase que de modo simultâneo, escrevi seu nome na postagem, indicando o livro e o país: Augusto Roas Bastos, de ‘Eu, o supremo’, que se passada no vizinho Paraguai. Roas Bastos, no meu curto conhecimento sobre literatura paraguaia, é o principal escritor do país que nos é referência pelos produtos que adquirimos nos camelódromos de toda cidade brasileira. No espanhol original, o título de ‘Eu, o supremo’, soa mais original: ‘Yo, el supremo’. Até parece que o ditador – seja ele do Paraguai, do Chile, do Brasil, de Cuba e, mais recentemente, da Venezuela – está com aquela farda típica do Simon Bolívar, com ombreirinhas douradas, parado na frente do espelho, peito estufado e dizendo para si: “Eu, o supremo!”. Assim como o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Chile, Paraguai registrou suas ditaturas ao longo de toda a sua história. Em ‘Eu, o supremo’, Roas Bastos reconta o período do presidente paraguaio José Gaspar Rodriguez de Francia, que ficou no poder em Assunção no período de 1814 a 1840. O caudilho se autodenominava ‘Supremo Ditador Perpétuo da República do Paraguai’. O livro de Roas Bastos está entre os 100 principais do idioma espanhol do Século XX, ao lado de obras como ‘Cem Anos de Solidão’, de Gabriel Garcia Márquez, e ‘A casa dos espíritos’, de Isabel Allende. Isabel Allende, chilena, também escreveu sobre o período da ditatura chilena quando seu tio, o então presidente do Chile, Salvador Allende, fora deposto pelas forças armadas comandadas pelo general Augusto Pinochet. Alias, ‘A casa dos espíritos’ – convertido em filme com grandes atores no elenco – narra a passagem do golpe militar chileno.
O diplomata brasileiro Bandeira Moniz - que há dois anos fora o nome indicado pela Academia Brasileira de Letras para representar o Brasil na concorrência para o Prêmio Nobel de Literatura – tem um amplo livro sobre a atmosfera que derrubou Allende no Chile: ‘Fórmula para o caos’. Para quem se interessou pelo tema, indico a série de livros do jornalista Elio Gaspari – são 5, ao todo: ‘A ditatura envergonhada’, ‘A ditadura escancarada’, ‘A ditadura derrotada’, ‘A ditatura encurralada’ e ‘A ditadura acabada’. Os livros de Gaspari e o de Bandeira Moniz são relatos jornalísticos, focam acontecimentos. Já Bastos ficcionou em ‘Eu, o supremo’, recriando o Paraguai do Século XIX, e fazendo o que o escritor brasileiro Antônio Callado definiu de “autobiografia escrita por outra pessoa”. Callado defina “Eu, o supremo”, como o melhor romance do Paraguai. Deixo outras dicas de leitura que abordam a América e seus ditadores: ‘Operação Massacre’, do argentino Rodolfo Walsh, ‘A noite dos assassinos’, de José Triana [peça teatral] e ‘A festa do bode’, de Mário Vargas Llosa. Recado aos leitores: a partir do próximo sábado irei iniciar uma série de artigos fruto da pesquisa para o meu próximo romance, ‘Os crimes ribeirinhos’, que dá continuidade ao livro ‘A próxima Colombina’.
Por Ramon Franco
Siga o nosso canal: On Literário Quer Contribuir? (18) 99652-8230 |