Assim como ocorre em determinadas épocas de nossas vidas quando recorremos a um determinado tipo de comida com mais frequência – aqui em casa, por exemplo, temos épocas de quibes assados ou de comidas japonesas – muitos leitores tendem a perseguir, em determinadas épocas de suas vidas, os mesmos escritores e temas.
De umas três semanas para cá ando lendo muito o Stephen King [já foi assim com o José Saramago, Jorge Amado, Marcos Rey, Orígenes Lessa, Fernando Morais, etc…].
Sempre tive admiração deste conhecidíssimo escritor norte-americano. Primeiro, na época da adolescência, quando ia à locadora alugar os vídeos do final de semana, me detinha nas capas de VHS dos filmes inspirados em sua obra: ‘O iluminado’, ‘Cujo’, ‘IT – a coisa’, ‘Conta comigo’ e ‘Carrie, a estranha’.
Não chegava a alugar, mas, quando ganhei mais idade, ainda na adolescência, experimentei fazer um ‘festival caseiro’ só com filmes inspirados na obra de Stephen King.
Nesta época, já estava em VHS duplo um excelente filme que teve como base uma das tramas deste mestre de enredos: ‘À espera de um milagre’. E, quando chegou o dia de assistir ao ‘O iluminado’, não sei o porquê, optei por uma versão mais nova e abdiquei da locação do clássico assinado por Stanley Kubrick e estrelado por Jack Nicholson. Vim a assistir este longa de Kubrick anos depois.
O que me causava espanto não eram as tramas de King – embora ‘Cemitério Maldito’ me deixou um bocado impressionado por aqueles dias – mas era que meus pais, que jamais gostaram de filmes de terror – se interessavam pelas tramas e, várias vezes, acabavam assistindo aos filmes do festival King da sala da nossa casa [anos mais tarde, já às vésperas de me tornar pai, voltei a fazer ‘festival caseiro de cinema’, mas com os filmes de Clint Eastwood].
Pois bem, na semana que passou conclui a leitura de ‘Sobre a escrita’, uma obra testemunhal de King. Stephen não te assusta com alienígenas escondidos em bueiros, ou moças paranormais, ou gente que volta após ser enterrada em cemitério índio.
Em ‘Sobre a escrita’ King é generoso e nos ensina o quanto a escrita pode nos transformar. Digo mais: é um tratado da persistência em lutar pela realização de um sonho.
Ao ler ‘Sobre a escrita’ entendi o que fazia meus pais se ligarem nos enredos de King. O escritor, assim como os meus pais, cresceu nos anos de 1950/1960 em uma cidade relativamente pequena e, ao reproduzir seus livros, o autor capta esta atmosfera de comunidade, onde todo mundo se conhece.
Poucos sabem, mas King, que é professor de formação, batalhou duro, trabalhou em subempregos, tanto ele, quanto sua companheira – com quem se casou na juventude e teve dois filhos.
Emocionante ler a cena onde ele conta como, após anos tentando viabilizar um texto ficcional em uma revista, e sem qualquer dinheiro no bolso para comprar remédio para a filha, lhe chega uma carta, no final de tarde de domingo e, nesta correspondência, está um cheque com valor suficiente para adquirir o medicamento e ainda pagar uma consulta médica.
Recomendo ‘Sobre a escrita’, principalmente para os escritores – iniciantes ou experientes – pois revela o quanto a literatura é realizadora e o quanto escrever é um ato que nos faz crescer.
Por Ramon Franco
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