Havia prometido no artigo anterior iniciar uma série de textos frutos da pesquisa que desenvolvi para dar sequência ao romance policial ‘A próxima Colombina’ [editora Carlini & Caniato], contudo, preciso quebrar esta promessa por um fato maior, ligado à sucessão presidencial dos Estados Unidos. Antes de concluir seu segundo mandato na Casa Branca, Barack Obama, fez questão de se encontrar com cinco dos seus escritores prediletos: Dave Eggers, Colson Whitehead, Zadie Smith, Junot Diaz e Bárbara Kingsolver. O líder mundial revelou que, em todas as noites em que esteve no comando da nação – grande potência bélica e financeira - lia por pelo menos uma hora. Leitor assíduo, Obama relatou que nos oito anos que tomou decisões que influenciaram os rumos do mundo, os livros o ajudaram muito. Um texto, em especial, o influenciou de forma recorrente: a cópia do manuscrito do discurso de Gettysburg feito por Abraham Lincoln em 1863. Este manuscrito, emoldurado, decora uma parede na Casa Branca e, repetidas vezes, em determinadas situações, Obama corria os olhos pela mensagem do ex-presidente que teve a árdua tarefa de unificar a nação que enfrentou uma das piores guerras civis do mundo.
Livros, para o presidente Obama, foram fontes de ideias e inspirações, ajudando a compreender as complexidades e ambiguidades da condição humana. Tudo isso, justamente, numa época em que tudo é transmitido numa velocidade surpreendente, com reações simultâneas que, na maioria das vezes, são fora de contexto. O próprio Lincoln, lá nos idos da sua presidência, controlava suas reações de uma maneira bem peculiar: escrevia tudo o que queria dizer sobre aquela situação – inclusive os palavrões que queria dizer para o ministro ou político em questão. Depois, colocava a carta numa gaveta. Horas depois, já com os impulsos aliviados e sem a emoção do momento, retomava o escrito e ia eliminando os excessos. Prudência tão necessária para um homem que exerce cargo tão significativo. Obama revelou neste encontro com os romancistas que admira e lê que tem por hábito escrever ficção. E adota a técnica de começar escrever à mão, em blocos. Ariano Suassuna – o grande mestre da literatura universal – tinha este hábito. Mas, Suassuna – de ‘A pedra do Reino’ e ‘O auto da Compadecida’ – escrita integralmente seus romances, poesias, peças e artigos, à mão. A produção literária se dava com caneta Bic e folhas de almaço – aquelas que nos anos escolares das décadas de 1980 e 1990 fazíamos as provas. Ao escrever este artigo sobre os hábitos da leitura de um grande líder mundial – Barack Obama – lembrei-me de que outros grandes líderes sempre cultivaram o hábito constante da leitura. Aliás, o decano dos ex-presidentes americanos, Jimmy Carter, que esteve na posse de Donald Trump na sexta-feira, só se recolhe em seu quarto após ler trechos da Bíblia. Carter prefere ler em espanhol versículos ou passagens do Novo Testamento. Aqui, pelo Brasil, todos sabem da erudição de José Sarne y – autor de ‘Marimbondos de Fogo’ e ‘O dono do mar’ – e da produção científica de Fernando Henrique Cardoso – que, aliás, lançou seus diários no período em que esteve no Palácio do Planalto. O próprio presidente Michel Temer, recentemente, lançou um livro de poemas. Entre os livros preferidos de Obama está ‘Cem Anos de Solidão’, de Gabriel García Márquez, o colombiano prêmio Nobel de 1982. Não identifiquei nenhum autor brasileiro no repertório de leitura de Obama, embora o ex-presidente dos Estados Unidos tenha tido entre os seus tutores de Harvard o brasileiro Roberto Mangabeira Unger [aliás, docente de Harvard até hoje]. Pergunto a você, leitor, qual livro de um autor brasileiro indicaria para Obama ler nas próximas semanas de descanso da vida pública? Eu indicaria dois livros: ‘Vidas Secas’, de Graciliano Ramos, e ‘Porto Calendário’, de Osório Alves de Castro [também indicaria todos do Guimarães Rosa].
Por Ramon Franco
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