No peixe de Mar de Quimeras e outras histórias

 

Iniciando novos projetos e desafios, o livro que norteará, hoje, nossas considerações é Mar de Quimeras e outras histórias, de Gladson Targa. Tal livro é formado por quatro contos fascinantes, tanto no conteúdo temático, quanto no conteúdo estético. Deste modo, escolhemos tratar somente de um deles, deixando para o leitor o deleite dos outros três textos. O conto escolhido foi o Mar de Quimeras.

 

 

Ao lidarmos com o conto (gênero literário) e sua extensão, teremos, na maioria das vezes, um recorte de algum fato. O que aconteceu antes e o que acontecerá depois estão sempre no campo da possibilidade. Assim sendo, Mar de Quimeras não é diferente. Jonas é o personagem principal, não sabemos nada sobre a sua origem nem sobre o seu futuro. Como o narrador é em primeira pessoa, temos os seus constantes fluxos de consciência, figurando como um sujeito e um herói solitário numa cidade grande. 

 

A boca do peixe abriu...

 

A narrativa conta a história de um dia na vida do Jonas mostrando sua rotina eterna, logo cíclica, desde o levantar pela manhã, até a hora de dormir. Em cada fase e nos espaços apresentados, existem alguns elementos interessantes: como é o seu apartamento, os diálogos com os objetos do seu lar, como é andar pela cidade grande (o peixe), como é a etapa do trabalhar, por fim, o retorno ao ponto de início. A única certeza está na constância de todos esses eventos.

Durante a leitura, todos certamente irão observar dois temas marcantes: a solidão e o peixe.

Com relação à solidão, já no início da narrativa, ela se encontra em destaque através dos diálogos entre o Jonas e os vários objetos do apartamento. Os objetos surgem como personagens no enredo. Personagens que suprem a necessidade de dialogar existente no ser humano. Esses diálogos mantêm a sanidade de Jonas e ameniza a solidão.

Numa outra obra de ficção — sem nenhum tipo de comparação — na tentativa de manter a sanidade, encontramos o famoso personagem do cinema Chuck Noland, do filme Náufrago (2001). Ao conversar com o Wilson, uma bola, ele tenta manter um diálogo que o afaste do isolamento e da loucura. Os diálogos de Jonas com os objetos não são meramente alegóricos, eles exprimem o que é conveniente para viver no seu mundo solitário.

O próximo ponto marcante é o peixe. Nesta temática, temos duas escolhas: acreditar que os acontecimentos são reais, e Jonas está realmente dentro de um peixe, e, dentro deste, existe um mundo (figurativo de uma cidade grande): ou aceitar que o enredo é fantástico puro e irreal como algumas histórias literárias. Esta abordagem coloca-nos no linear entre o fantástico e o real.

Por possuir o nome Jonas e por estar dentro de um peixe, a primeira ligação que fazemos é com o personagem bíblico. O próprio texto traz essa possibilidade e ainda indica algumas outras obras de ficção na mesma linha.

É possível afirmar que o tema “estar dentro de um peixe, num plano de fundo” apresenta-nos uma missão, um ensinamento. Temos um condutor levando o personagem a realizar alguma ação. Assim, não sabemos qual é a missão do Jonas, muito menos como nem quando ele a realizará. Sabemos tão somente que ele segue solitário dentro deste peixe urbano.

 

... A boca do peixe fechou.

 

Chegamos ao fim dessas considerações. Escolhemos alguns aspectos de vários outros que poderíamos mencionar. Cabe, agora, a cada leitor criar as suas próprias considerações, tanto das ideias expostas, quanto daquilo que encontraram de novo no conto. Vale a pena ressaltar que o conto tratado faz parte de uma coletânea. Portanto, leia e acompanhe o livro Mar de Quimeras e outras histórias. 

 Por Artur Gueanori

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