Coração que late

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Coração que late

por Ramon Barbosa Franco

Ao virar uma rua em Jerusalém, em 2022, a luz do outono israelense me revelou uma verdadeira tela de obra de arte. O sol iluminava o jardim de um sobrado construído com a típica pedra de Jerusalém, uma rocha calcária que predomina na cena urbana da terra do Cristo ressuscitado. Não era o sobrado, aparentemente moderno para a secular cidade que mata os seus profetas, mas exatamente o que estava depositado, na verdade, esquecido no gramado: brinquedos de uma infância concluída. Olhei aquele triciclo todo enferrujado ao lado de tantos outros brinquedos que por várias tardes e manhãs alegraram aquele que deveria ser hoje um moço, ou uma moça, universitária ou já um jovem adulto. Confesso que a cena me captou e pensei em utilizá-la recentemente num livro que concluí, contudo o assunto destoava muito do que eu estava redigindo. Porém, como aprendi com a poeta Cora Coralina (1889-1985), a palavra é escorregadia, feita enxurrada, e se a gente não anotar, se vai. Anotei no bloquinho que me acompanhou naquela viagem internacional e encontrei exatamente hoje a oportunidade de trazer à cena para a arte.

Se em 2022 virei uma rua e me deparei com uma cena, agora em 2025 virei a página de um livro e topei com uma frase: ‘a força do coração que late para nos manter vivos’. Este é o trecho final da minha participação na obra ‘Quatro patas, a história de Pituco’, redigida em parceria com o publicitário Tiago de Moraes das Chagas. O livro é a biografia de um ser muito especial, repleto de luz, verdade, carisma e energia: o saudoso Pituco. Pituco, no mesmo ano em que estive em Israel, alçou ao status de primeiro cachorro personagem de história em quadrinhos de Marília, portanto é o nosso primeiro canino super-herói. Já está no panteão que acomoda o Super-Mouse - o rato herói, o Pacato - o tigre herói que se transforma no Gato Guerreiro, e o Krypto, o supercão do Superman. 

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Uma infância sem um cãozinho de estimação, sem um gato para nos afagar as pernas, um passarinho para cantar pela manhã ou um papagaio que te faça rir com os palavrões que todo mundo o ensina, deve ser muito frustrante. Tive vários Pitucos, os gatos rodeavam o nosso quintal, o bem-te-vi piava agudo lá no abacateiro e o papagaio do seu Pedro, que era da fanfarra de Paraguaçu Paulista, sabia o nome do meu irmão e gritava toda manhã: ‘Rodrigooo!’. Entretanto, quando crescemos, muitas vezes, esquecemos dos nossos animais de estimação, da mesma forma que naquela casa de Israel os brinquedos estavam perdidos no jardim. Em italiano, seria algo assim ‘i dimenticati’ - os esquecidos, mas o idioma que me inspirou para escrever a frase ‘a força do coração que late para nos manter vivos’ foi o espanhol, pois quando se escreve ‘un corazón late’ é dizer ‘um coração bate’. E, agora, Pituco é também da literatura, esse viralatinha incrível, portanto, passa a integrar o panteão onde já estão Baleia, de Vidas Secas, Achado, de A Caverna, e o popstar Samba, da coleção O Cachorrinho Samba! Aliás, dediquei ‘Quatro Patas’ para Maria José Dupré, a autora do cachorrinho Samba, às cadelas Bandeira, Iana, Ayra e a meiga Hana. São Pitucas amáveis que conviveram comigo, assim como a infância que ainda ‘late’ dentro do meu coração e mente.

Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’, ‘A próxima Colombina’, ‘Contos do Japim’, ‘Vargas, um legado político’, ‘Laurinda Frade, receitas da Vida’, ‘Quatro patas, a história de Pituco’, ‘Nhô Pai, poeta de Beijinho Doce’, ‘Dias de pães ázimos’ e das HQs ‘Radius’, ‘Os canônicos’ e ‘Onde nasce a luz’, Este endereço para e-mail está protegido contra spambots. Você precisa habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

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