Da redação. 05/02/2022
“Quem revelou o esconderijo de Anne Frank?” (Parte II)
A traição de um tabelião judeu; editora suspende impressão do livro sobre quem teria revelado o esconderijo de Anne Frank
A coluna da semana passada “Quem revelou o esconderijo de Anne Frank?” repercutiu o lançamento do livro, The Betrayal of Anne Frank (“Quem traiu Anne Frank?: A investigação definitiva sobre a morte da autora do diário mais famoso do mundo”), lançado no dia 18 de janeiro pela autora canadense Rosemary Sullivan. A versão em português está em pré-venda pela editora HarperCollins, com lançamento previsto para o dia 15 de fevereiro.
A obra joga luz sobre uma investigação que havia sido arquivada e tenta elucidar quem teria revelado, aos nazistas, o esconderijo de Anne Frank e sua família. Sullivan se debruçou por seis anos sobre os documentos e concluiu que o tabelião judeu Arnold van den Bergh, seria o principal suspeito de ter revelado o esconderijo da menina judia.
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Durante esta semana, uma editora holandesa, Ambo Anthos, suspendeu a impressão do livro, e levantou dúvidas sobre a pesquisa por trás dele, a informação foi revelada por um e-mail interno apresentado pela Reuters. Após o lançamento do livro, outros pesquisadores criticaram as descobertas, dizendo que a investigação estava “cheia de erros”.
Entre os que questionam a pesquisa estão o Fundo Anne Frank, criado pelo pai de Anne Frank, com sede na Basileia, e o historiador Erik Somers, do instituto holandês NIOD que se dedica ao estudo de guerra, holocausto e genocídio.
Em contraponto as críticas, a investigação de Sullivan informa que atuou com uma equipe multidisciplinar formada por um agente aposentado do FBI dos EUA e cerca de 20 historiadores, criminologistas e especialistas em dados.
Em um e-mail enviado aos autores da obra, a editora holandesa, disse que os pesquisadores deveriam ter tido “uma postura mais crítica” com relação à publicação e solicitou aos autores e pesquisadores informações adicionais. Enquanto isso, a impressão de uma nova tiragem estaria suspensa. O e-mail da editora, com sede em Amsterdã inclui um pedido de desculpas, “Oferecemos nossas sinceras desculpas a todos que possam ter se sentido ofendidos pelo livro.”
Até o momento não houve uma resposta da autora Rosemary Sullivan, ou da editora HarperCollins, responsável pela publicação em inglês. O e-mail vazado não revela quais seriam as dúvidas ou suspeitas levantadas sobre a investigação. O pesquisador, Pieter van Twisk, integrante da equipe de pesquisa, afirmou que todos ficaram "completamente surpresos" com a mensagem. "Tivemos uma reunião na semana passada com os editores e conversamos sobre as críticas e por que sentimos que poderiam ser contestadas e concordamos que apresentaríamos uma reação detalhada mais tarde”, disse ao ser questionado pela Reuters.
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Após a suposta denúncia em 1944, a família Frank e outros sete judeus foram capturados, depois de quase dois anos escondidos em um anexo secreto que ficava em cima de um armazém, em Amsterdã. Anne morreu aos 15 anos, em fevereiro de 1945, depois de ter contraído febre tifoide no campo de Berger-Belsen, onde também teria enfrentado a fome e o frio.
Uma das principais motivações do tabelião judeu seria proteger a própria família. Segundo a investigação de Sullivan, o delator também teria denunciado outros endereços, segundo os documentos a sua atuação teria dado certo, Arnold van den Bergh salvou a própria família e morre cinco anos depois do fim da guerra, em 1950.
O Congresso Judaico Europeu, com sede em Bruxelas, pediu em uma carta vista pela Reuters que à HarperCollins considere remover o livro e se distanciar de sua "reivindicação potencialmente incendiária... em um momento em que o antissemitismo e a negação e distorção do Holocausto estão em ascensão."
Depois de 77 anos o mistério sobre quem teria denunciado a família Frank aos nazistas continua. O que se sabe até o momento é que o resultado das investigações realizadas por Rosemary Sullivan e sua equipe tiveram força para provocar uma onda de protestos.
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