A guerra de Canudos retratada por artista Naif em exposição na cidade de Ribeirão Preto
O 9 de julho revive um dos maiores conflitos armados dentro do Brasil no século passado, a Revolução Constitucionalista de 1932.
Tiveram outros focos de guerra civil, inclusive posterior ao levante de 1932, como a que que foi chamada de Revolta do Quebra-Milho ou Guerra de Porecatu , no Paraná.
Antes do movimento constitucionalista, onde paulistas pegaram em armas para providenciar a promulgação de uma Constituição, o Sul do Brasil foi palco de confronto sangrento, a Guerra do Contestado.
O tratado de paz que pôs fim aos embates entre rebeldes e as forças armadas ocorreu há 100 anos, em agosto de 1916. Até o ano de 2012 ao menos três testemunhas oculares do conflito ainda eram vivas. Todas centenárias que não conseguiram esquecer o clima bélico vivido na longínqua infância.
O escritor de Paraguaçu Paulista, Adauto Elias Moreira, em ‘Os Abismos de Caraguatá’ parte do contexto histórico para narrar a guerra civil que aconteceu no território de divisa entre Paraná e Santa Catarina. A região em questão era contestada pelos governos dos dois Estados e conforme esclarece o livro: “… era uma terra de ninguém por que ali não havia autoridade. Era a lei do mais forte. Nada era oficial. Não era Paraná, não era Santa Catarina. Era o Contestado”.
A trama é apresentada entre a atualidade, onde se concentra uma espécie de observatório de reflexão, e os episódios da segunda década do Século XX.
Com diálogos, o autor traça uma ponte entre o passado e o presente, deixando o leitor numa expectativa para a conclusão das ideias e fatos apresentados ao longo das 418 páginas.
O personagem principal – que de Joãozinho cresce para João Expedito, luta como João Pelado e termina se escondendo como João Amâncio – se revela essencial para o resgate do que foi a Guerra do Contestado.
Entre o que representou aquele confronto armado, aliás, o primeiro onde se utilizou aviões, e a nossa compreensão, Adauto Elias Moreira traz várias análises do drama vivido por milhares de famílias brasileiras.
O livro também aborda as consequências sociais e o desenrolar fanático do levante messiânico. Os capítulos, que às vezes aparecem enxutos demais, concentram detalhes fragmentados daquela era, revelando a busca do autor em trazer à tona a injustiça, contextualizar a ganância e também a ausência de dignidade para com um povo.
De um modo geral, ‘Os Abismos de Caraguatá’, que conquistou o Prêmio Lucilo Varejão, da Prefeitura do Recife, e o Prêmio José Lins do Rego, da União Brasileira de Escritores (UBE), reconta as atrocidades geradas justamente pela falta da presença de um Estado (seja República ou Monarquia), pelo império da violência e pela omissão de um governo.
Em ‘Os Abismos de Caraguatá’ Adauto Elias Moreira teve a maestria comum aos grandes nomes da literatura mundial, como Mário Vargas Llosa – prêmio Nobel de Literatura em 2010 – para transformar em ficção uma guerra.
O peruano Llosa trabalhou com Canudos, levante messiânico do Século XIX liderado por Antônio Conselheiro, em ‘A guerra do fim do mundo’. Para encerrar a coluna deste sábado revolucionário – hoje é celebrado os 84 anos da Revolução de 32 – indico a leitura de outro romance que provoca clareza e reflexão às voltas da tentativa de levante popular na Bolívia pelos guerrilheiros liderados pelo argentino Ernesto Che Guevara, ‘Método prático da Guerrilha’, de Marcelo Ferroni.
‘Método prático da Guerrilha’, assim como ‘A guerra do fim do mundo’ e ‘Os Abismos de Caraguatá’ recriam acontecimentos em detalhes. Ah, ia me esquecendo. Para quem deseja reviver na literatura o conflito de 32, recomendo ‘Jacaré de Colete’, do professor Amaury Pacheco, lançado em Marília na década de 1980.
Jacaré de colete, como explica Pacheco, foi o apelido que ele recebeu assim que colocou a farda constitucionalista. Era comum, aos combatentes de 32, receberem apelidos no momento da vestimenta da farda. ‘Jacaré de Colete’ é uma crônica desta guerra civil.
Por Ramon Franco
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